30 de out. de 2007

29 de out. de 2007

Kentucky (por 7A)

O quarto-azul-horizonte, a aritmética do prazer e suas rotas de vento.
Giletes subterrâneas de petróleo.
O veneno do carnaval: as garras são guindastes e as cicatrizes são poemas visuais.

Na opinião bem fundamentada de William Blake, é sobre as crateras do Kentucky que sairá a ´´quinta raça``, a raça cósmica que realizará a concórdia universal, será neta das dores e esperanças da humanidade inteira.

Os mártires do asfalto sabem melhor do que ninguém sobre os sacrifícios da bandeira:
No Kentucky é carnaval todo final de mês pela comemoração da vitória apolínea do mundo, são doze os apolos de Kentucky saudados em uma macumba com muita cachaça e KFC em cima das estrelas do grande Estados Unidos da Vertigem. O nome do preto velho do Kentucky, portador da quinta raça, é Dom Cruzeiro das Almas, ou mais especificamente para os íntimos, Mr. Sailor of Souls.

Para os navegadores do quarto azul-horizonte, a aritmética do prazer e suas rotas de vento levam sempre ao transe do babalorixá Coronel Sanders. Eles sabem que todo corrimão é movediço, os degraus, por exemplo, estão a todo momento se esfacelando sobre os pés......a estrada estava lá há dois minutos atrás, mas já não está.

Ali na encruzilhada entre Fort Knox e Frankfort, cada mãe de santo recebe a graça do frango transgênico e ainda leva para casa um balde involuntário de tristeza. Sem dúvida nenhuma se comemora o carnaval!!!!!!

Nos cafundós de Wasteland, Kierkegaard, o mulato dinamarquês, ensaia sua dança ao luar apolíneo desta míriade chamada Kentucky.

O quarto azul do horizonte já se abriu.
José Agrippino de Paula devora um frango frito enquanto espera pela quinta margem na Panamérica do nada.

28 de out. de 2007

A VERDADEIRA BALADA DE JACKSON HOLE VALLEY

“Ó garotinha linda, beije sua mula
Ó garotinha linha, beije sua mula
Que o jackson hole cowboy
Levantará seu chapéu para a gloriosa América”

A garotinha da famosa balada em homenagem ao famoso cowboy do Wyoming poderia ser Jenny, filha do proprietário do rancho Flat Creek, Damon Fuller. No rancho do Sr. Fuller não só as mulas, principal atração para as crianças, são famosas, mas também os búfalos reprodutores da raça Carabao. “A comunidade homossexual de todo o país vem até o meu rancho exclusivamente para apreciar o coito de meus búfalos!” Afirma Damon, enquanto o casal novaiorquino Jerry Liotta e Javier Cruz olham atentamente para a ereção que surge entre as quatro patas de Tony, o mais bem dotado búfalo do Flat Creek. “Em Nova York nunca veríamos um desses”, explica espantado Javier, nascido em Porto Rico. Porta de entrada para o parque de Yellowstone, Jackson parece um turbilhão de alegria e entusiasmo, até mesmo no inverno, quando cerca de 14 mil turistas, em sua maioria gays do sexo masculino, vêm assistir aos rodeios, visitar o parque nacional Refúgio dos Alces e, principalmente, fazer amor sob os picos nevados destas maravilhosas montanhas que se erguem no Wyoming. Isto sim é que é vida selvagem!
7M.

25 de out. de 2007

VERDE PASTO DÓLAR

há poesia no dólar
há poesia nas notas verdes
pasto de wall street!
uma vaca rumina uma barba verde de Abraham Lincoln
um mustag puro sangue cavalo alado galopa
nos pastos verdes das folhagens de dólar!

um cowboy viu poesia nos dólares
me contou Maiakóvski numa conversa Chico Xavier
a história de Damon Jim:
“depois de receber 250 mil dólares de herança alugou um trem de luxo inteirinho, encheu-o de vinho, amigos e parentes, foi para Nova York percorreu todos os bares da Broadway, torrou meio milhão de rublos de bens em dois dias e partiu em busca de seu mustang sem nenhum tostão, no estribo sujo de um trem de carga.”

Trem, vinho, dólares e um cavalo
THE AMERICAN DREAM!

todo americano sabe que o dólar é mais do que verde
é de cor indefinível
reagindo na química do cérebro
como angustiada cromoterapia

a América dos Americanos
daqueles que ganharam seu primeiro dólar!
é isso que faz de um Americano Americano
seu primeiro dólar
I´m proud of you my son
you´ve earned your first buck!
disse Huckleberry Finn antes de emborrachar-se
com o vinho tempo delírio dos duendes
Huckleberry Finn perdeu tempo
perdeu dólares

quem são os Americanos?!
vou ruminar também nos pastos verdes da América!

7D.

24 de out. de 2007

INTERMISSION



Oh, do not ask, “What is it?”
Let us go and make our visit.

22 de out. de 2007

ponte aérea chicago-dallas (por 7A)

A América dos primitivos Valentine,
um oásis sobre o deserto das fábricas,
o formigueiro elétrico lança sua desvirtuada lenha de pássaros:

a nova civilização grega será reinventada no próximo engarrafamento.
O conglomerado vegetativo de Kansas City não impressiona os magníficos boulevards de Dallas.

Mulheres de vidro (os olhos e os bicos do seio feitos de pequenas pedras brilhantes),
árvores dessa droga de mundo novo aqui na praça onde Kennedy bateu as botas.

Os lugares se consomem,
estou sempre a vinte milhas de Chicago.

Todos sabem que a Nova Atenas brotará na ágora do Império dos Engarrafamentos.

Perto do Lake Michigan em frente a South Loop, aqui na Soldier Field os poetas de Dallas ainda cantam sobre a Indian avenue, Sinatra, o ´´outsider`` da Escola de Chicago, já o pressentiu muito bem. Vende-se dinheiro.O vôo magnético do titã de New Jersey Frank Sinatra. LOGOMAQUIA!!!!!!!

Me encontre na Sears Tower, mais uma montanha. Skydeck é uma torre de pessoas, não um palácio de dólares. Mas não!!!!!!!!! Não importa onde eu vá, estou sempre a 20 milhas de Chicago. É tudo um grande Hyde Park. Vende-se dinheiro. Height to the structural or architectural top. Height to the highest occupied floor. Height to the top of the top.

É verdade, os poetas de Chicago amam os bárbaros, não resta a menor dúvida.


Height to the top of antenna. Overwing. Uma nova fórmula tubular de desconstrução. Efetivo transporte vertical. Os monstros da anatomia.

Os lugares se consomem,
eu só vim aqui para resgatar Eurídice,
a orelha dela é minha.

17 de out. de 2007

godot não vem (7A)

Como diria Oswald de Andrade só nos resta o primitivismo da forma (o primitivismo psicológico já era). Velhos novos tempos, volta a inocência construtiva da arte, a síntese ágil, a reeducação da nossa sensibilidade bárbara. No ano de 1952 Samuel Beckett escreve Esperando Godot e até hoje ele ainda não chegou. Se a poesia existe contra a morbidez romântica, pela invenção e surpresa, é certo que Godot nos espera preso em algum elevador de qualquer arranha-céu.

Aqui estão Pozzo e Estragon, mas não, Godot mandou avisar que hoje não vem, ficou preso no trânsito e deixou bem claro que é totalmente contra qualquer meeting cultural depois das 6, alías para falar a verdade Godot odeia os zoológicos humanos e acha acha a poesia falada um saco.

Somos todos parentes do sol, só nos resta a psicodelia elétrica primitiva, o Império do Kaos com K para o nosso mapa-mundi de preguiça; não, por aqui nenhuma saudade hipócrita nos assola. Seguimos. Nos resta o bárbaro, os catálogos dos tédios urbanos, como diria Jorge Mautner só nos importa a realidade sem loucura e prostituição.Godot ainda não aparece por aqui em Ipanema, muitos dizem até que ele é aquele fantasma carioca sempre atrasado 2 horas, ou aquela impossível mulher muito conhecida pela cidade. Pozzo e Estragon somos nós, o existencialismo do Posto 9 recoloca o homem em sua ansiedade do Tempo e do Ser, naufrago, naufrago.

Muito interessante é a visão presente em poema de Alberto Pucheu de que o rinoceronte de Ionesco que tanto esperamos, fossemos nós próprios invertidos nos espelhos invisíveis. Godot somos nós mesmos. A única diferença talvez seja a de que o Rinoceronte realmente chega, mesmo que nunca materializado, muito ouvido. Godot que esperamos a vida inteira é obra do nosso espelho, e nada mais.

Por aqui a figura tão conhecida é substituída pelo matriarcado, só o primitivismo plástico nos salva. Paradeiros, mapas, satélites, esperas na frente do cinema, rastros, restos. O existencialismo de brinquedo recoloca o homem no meridiano da devoração.

Godot não vem, nunca mais irá chegar.

16 de out. de 2007

COPPER PIT MINES FOREVER

Paizinho costumava vir de Liberty Pit diretamente para a Big Four e o bolo de carne de mamãe esfriava, enquanto a verdadeira liberdade de meu velho esquentava no clube de dança. Um dia paizinho trouxe pra casa, dentro da mochila puída de couro uma lebre selvagem já morta e com cheiro de tabaco e álcool. Minha mãe que apesar de apanhar diariamente dos braços fortes e das mãos calejadas de meu pai, era vegetariana. Vomitou na pia do triturador e no dia seguinte eu sabia que nunca mais veria meu pai. Acordei no banco traseiro de nossa camionete que rumava em direção a California. Naquela mesma década fecharam o Liberty Pit e dias depois avisaram a minha mãe que meu pai fora encontrado morto na linha do trem. Era inverno e o deserto de Nevada ainda carregava nas costas uma densa nuvem cor de cobre da minha infância.
7M

FIGHTING FOR IOWA

Oh, we will fight, fight, fight for Iowa State And may her colors ever fly.
Iowa Fight Song

Cruzando de leste a oeste o glorioso estado de Iowa pastores de porcos da colônia alemã filiados ao Greenpeace interromperam o tráfico da rodovia 69 entre Ames e Des Moines. Os pastores protestavam contra a plantação de soja transgência no estado que, usada como ração, estaria afetando a saúde dos porcos. De encontro à manifestação vinha um grupo de produtores de etanol da colônia Irlandesa que queria cruzar a rodovia no intuito de chegar à capital para uma reunião sobre subsídios à produção do produto. Os porcos chafurdavam em poças de lama e estrume ao lado da rodovia enquanto os pastores tentavam empurra-los para o asfalto. Buzinas e gritos de porcos se misturavam ao som da canção de luta do Iowa entoada por um grupo de hispânicos que já se consideravam americanos e se sentiam no direito de reivindicar o greencard antes de tentar atravessar Minesota para fugir de possíveis retaliações num exílio forçado no Canadá. O caos atingia um ponto de tensão perto da ebulição. Quando estavam os irlandeses empurrados pelos hispânicos prestes a atropelar os porcos dos alemães alguém de etnia indefinida gritou o lema do estado: Our liberties we prize and our rights we will maintain! Perguntado sobre sua procedência gaguejou e não se sentia confortável para incluir-se em nenhuma categoria.

(Pausa dramática em silêncio profundo)

Encontrando um inimigo comum alemães, irlandeses e hispânicos sentenciaram o desertor que não conseguiria enquadrar-se nas rígidas definições étnicas americanas e que havia assim desonrado o glorioso lema do glorioso estado de Iowa.

“Homem de etnia não identificável é linxado por multidão na rodovia 69. Os hispânicos serão deportados” Era a manchete de um jornal do condado de Montgomery!
7D.

mensagem aos poetas da guerra ( por 7A)

A guerra em geral me parece um efeito poético. As pessoas se julgam obrigadas a bater-se por uma qualquer mesquinha posse e não reparam que o espírito romântico as excita a aniquilarem as inúteis maldades através de si próprias. Elas levantam as armas pela Poesia e ambos os exércitos seguem uma bandeira invisível. Na guerra movem-se as águas primeiras. Novos elementos do Mundo devem nascer. A verdadeira guerra é a guerra religiosa; ela corre direta ao declínio, e a demência do homem se apresenta na sua forma completa. Muitas guerras, especialmente as que nascem do ódio nacional, pertencem a esta classe e são autêntica Poesia. Aqui estão os verdadeiros heróis, os mais nobres poetas, nada mais que involuntárias forças universais penetradas de Poesia. Um poeta que fosse herói de guerra, simultaneamente, seria já um enviado divino, mas a nossa poesia não está à altura da sua representação. (Novalis)

Os poetas da guerra, Los Almos ecoa em algum espírito romântico de Novalis ao New México. Bandeiras invisíveis ajudarão a raiar o dia
e já não importa que mundo irá nascer,
já não importa em que pulso se irá pulsar,
em que sol de plástico irá caber?
Já pouco importa.
(cada herói flutua)

Faça como aconselha aquela música dos Smashing Pumpkins:
Feche os olhos para ver a poeira dos anjos.

O unicórnio bestial do Apocalipse virá em um versinho dançante e hipnótico de Puff Daddy e nada mais.
( Santa Fé é aqui; nesse bar, nessa calçada)

Mas e teu museu de radiação?
Estados Unidos da Vertigem.
Mas e tuas chuvas de silêncio?
Estados Unidos do Tédio.
Estados Unidos da Ilusão.

Os poetas da guerra serão os únicos possíveis nesse imenso poema talhado no céu aberto,

de Novalis ao New México, das granadas a cicuta;
torcemos todos.

Caminhamos.
A poeira dos anjos é nossa hóstia contra a imanência da televisão.


7A.

15 de out. de 2007

BRAZILIAN DREAM

Preston Woolen e Worda Chandler trabalham como atendentes no Cow Palace-Restaurant em Shelbyville, Indiana. O jovem casal sonha em ganhar a vida no Brasil, a terra das oportunidades, mas terão que adiar seus planos.

7M

NUTRICIONISTAS AMERICANOS

“Nutricionistas americanos defendem McDonalds para crianças inapetentes” era a manchete de um jornal que jorrava delirantes números transgênicos de gordura saturada vindos de uma universidade na Califórnia. Enquanto isso no centro-oeste da potência caminhava por Milwaukee - Wisconsin - um pequeno inapetente com seu jornal-manchete-guia debaixo do braço. No seu décimo terceiro McDonalds da semana, ali na interseção da E. Potter Avenue com Kinnickinnic, o pequeno inapetente triturou seu vigésimo segundo BicMac do mês. Em seu sangue começava a pulsar uma antiga canção Menominee ativada pelo excesso de gordura trans. naqueles genes indígenas adormecidos! Entre palavras tribais e um inglês de convulsiva língua enrolada espinhentos funcionários do estabelecimento observavam com temor àquele ritual xamânico da criança inapetente que verborrajava a profecia do maior shopping indígena dos Estados Unidos da América! THE KENOSHA PROJECT! Urrava o pequeno lobo das neves do Wisconsin! Urrava dominado pelo espírito dos ancestrais trazido à tona pelos números transgênicos saturados da manchete do jornal! Milwaukee parou ouvindo os gritos inumanos da profecia Menominee... Os espíritos antigos estavam libertos pelas mãos de Ronald Mcdonalds! Uma legião de índios com nariz de palhaço vestidos de vermelho e amarelo construiriam o Shopping Nação Menominee! Eram os urros de uma nova era! ... Mas toda nova era pode ser abafada com um golpe de mestre da C.I.A.
“Criança vestindo penacho indígena é encontrada com 13 BigMacs não digeridos no estômago às margens do lago Michigan” era a manchete de um jornal sensacionalista numa manhã de Milwaukee...
7D.

10 de out. de 2007

O tempo (para um encontro em Diadema com Roberto Piva, Afonso Henriques e Cláudio Willer, outubro de 2007). (7A)

O tempo profundo da terra,
decaimentos radioativos,
multas altíssimas.

Encontrar Foucault em um coma poético de qualquer sarjeta do Baixo Leblon,
Clarissa foi minha Nadja nos meses de julho e agosto.
(Nadja me roubou todos os subterrâneos de Bakunin).
Compassos do parafuso circular,
big bangs nos espirais das Teleilusões.
(me lembro de meu tio dizendo que os dias estão cada vez mais curtos, daqui a pouco terão 22, 21 horas somente, finalmente. Será que nenhum corvo nos salva?).

O tempo do amor vai sendo marcado pela decomposição da rocha,
O coral dos dinossauros tristes só cresce durante o dia.
Lâminas claríssimas nos confundem,
Depositamos nossa lama na tábua daquele satélite.

Dentro do Segredo Glacial de uma rave em Santa Cecília,
as sombras dos ponteiros fraturados.
Nosso foco flutuante.
Beijo que vem grudado em um iceberg,
as estradas xamânicas de Jabaquara.

(quando chegamos Roberto Piva falava de robôs pederastas e como Isaac Asimov estava errado. Cláudio Willer nos apresentou a bela geologia da sintonia das nuvens).

Prédios de montanhas,
continentes colidem,
o encaixe já se abriu,
Maiakovski previu a obliquidade das almas.
A lua negra do tempo,
a morte daquele oceano é o pulsar deste;
os óculos do planeta se perdem na bruma do pulsar dessas galáxias.
Em quantos universos cabem?
enquanto universos cabem.

Nadja e Breton, Oswald e Tarsila, o grande Big Bang.

Estrelas mortas nos guiam,
o polvo selvagem nos mostra suas sombras,
Ruína de nuvens,
Ilhas de tabuleiros,
leites de sangue,
leites de sangue.

Continentes colidem,
Nenhuma tatuagem do sol.

Três astronautas caminham depois do escuro.

8 de out. de 2007

PREFÁCIO PARA ANA C.

Olá Ana! Li seu livro novo com prazer. Prazer, espanto, dor, emoção, agridoce, saúde, aromas... e tantos outros sentimentos que nos desperta a poesia. A primeira coisa que queria comentar é o título, vi as opções que você me enviou: "Caramelos de Saudade" e "A ponto de partir" (que é um verso antigo seu) e o longo título "Olho por muito tempo o corpo de um poema até perder de vista o que não seja corpo", que se não me engano é verso de um outro poema do Cenas de Abril. E que é o que eu mais gosto porque é menos ingênuo que o primeiro, menos mórbido que o segundo (eu que já sei o seu futuro) e ainda me lembra o play the piano drunk like a percusion instrument until the fingers begin to bleed a bit, do Bukowski. Interessante buscar na sua própria obra versos antigos que possam ser títulos novos. Escolher um título é como “ancorar um navio no espaço”. A minha Macondo é o espaço como eu já te disse numa tarde dessas ali entre aquelas árvores da PUC. Mas sua poesia é mais carne, mais terra. Mais a potência física desta materialidade poética que nos é tão imaterial. E por falar em materialidade gostei da série Poesia Caminhando que fecha o livro. Esses poemas longos, de fôlego largo. Como se lidos mesmo no correr de um caminho, de uma estrada de asfalto cortando o deserto! Talvez mais férteis do que asfalto... sim muito mais férteis e fecundos! Mas gostei desse seu desafio de escrever coisas mais longas que dançam entre a prosa poética e o verso livre (livremente controlado pela sua sensibilidade poética, algo mais que a pulsação sangüínea). Acho esse o ponto alto do livro.

Tenho lembrado muito de você por causa do Kerouac. Estou lendo Os Subterrâneos e ouvindo muito aquele disco The Jazz of The Beat Generation! Quem me passou foi o Mariano. Você que leu tanto Kerouac e até dialogou com ele naquele Na outra noite no meio-fio, Dr. Sax e tal. Por falar no Mariano lembrei do Augusto e de uma visita que fizemos a casa do Armando onde lembramos muito de você. Estavam lá também a Bruna (que você conhece muito bem!) e a Alice Sant´Anna uma poeta que você tem que conhecer! Ela toca até numa banda chamada Os Subterrâneos, não sei se é por causa do Kerouac. Mas podia ser. E por falar em tudo isso pensei que o prefácio do seu livro poderia ser esse mail que te envio. Assim como fez o próprio Augusto com o mail do Zé Celso na orelha do livro dele. Pense e me responda quando quiser e puder. Aguardo ansioso!!!

Heidrun, Paulo Brito, Helô e meu tio Afonso mandam beijos. Manda um beijo pro Cacaso! Ah! Encontrei com o Tite no jockey outro dia! Perdemos um dinheiro quadrifetamente delicioso numa tarde divertida!

Muitas Saudades!

7D.

4 de out. de 2007

Sonhei com Ana Cristina César

Sonhei com Ana Cristina César. Ela estava ali sentada naquela roda com meus amigos em frente a uma entrada de garagem numa rua sem saída do Leblon. Ana C. ali como eu não a conheci. Doce e calma com aquele olhar magro de lentes que engoliam o mundo. Falávamos sobre seu próximo livro... “Claro que eu te escrevo um prefácio”... Ela ri, se levanta, vai. Antes da esquina me diz... “O mais triste não é a morte, é conhecer alguém no passado já sabendo do seu futuro”... “Eu só te conheci nos sonhos”... Uma parede de janelas de banheiros se ergue no entardecer!

7D.

2 de out. de 2007

os ingênuos (7A)

you´re the murder in my world dressing coffins for the souls
I´ve left to die,
drinking mercury to the mistery
of all that you should ever seek to find.
In you I see dirty In you I count stars
In you I taste god In you I crash cars.
(Billy Corgan)


mesmo através do turvo e estilhaçado espelho das feras,
mesmo através dos mapas litúrgicos,
mesmo através das igrejas teleguiadas que me peseguem,
qual será o novo desastre?

todo índice é símbolo, tudo é artifício, tudo é caverna.

em todo esse tempo o meu cinema era você.

um dilúvio de cartões postais,
me manda uma mensagem de batom para naufrágio,
sete segundos de radiação, ´

só os ingênuos não viram
esse colírio de óleo diesel,

puro aborto luminoso,

a rainha de sabá já chegou.

uma mulher acaba de parir um peixe
rompendo a escuridão de todos os túneis do metrô.